O EQUILÍBRIO ENTRE APOLO E DIONISO
“Para tudo há um tempo,
para cada coisa há um momento debaixo do céu.” (Eclo, 3)
Na mitologia grega, Apolo era a divindade do sol, das artes, da música, profecia e medicina, igualmente influente nas guerras entre as cidades-estado1, assim acreditavam. O mito ganhou fama, sobretudo, na cidade de Delfos, onde lhe construíram o templo renomeado como “O Oráculo de Delfos”. Lá Sócrates colheu uma importante lição de sua ética filosófica: o célebre aforismo “conhece a ti mesmo” (gnōthi seautón – γνῶθι σεαυτόν). Apolo tornou-se o símbolo psicológico de uma vida alicerçada na ordem e nas virtudes. Ter uma alma apolínea significa amar a rotina e acolher, com disciplina inquebrantável, o peso de uma vida regrada, sujeita à princípios, regulamentos e normas. Todo verdadeiro soldado tem caráter apolíneo.
A antítese desta via psicológica encontra-se na figura mitológica de Dioniso, adorado em pequenos templos e cavernas espalhados nos bosques das metrópoles culturais helênicas. Dioniso era a divindade das festas, do vinho, da alegria, do teatro, do relaxamento do corpo e da alma. Seus festivais eram regados a muito vinho, com as consequências imagináveis2. Considerar os traços dionisíacos que subjazem na alma humana significa dar vazão ao lazer, à criatividade, a alegria e à distensão, um campo minado somente para quem seja desprovido de autodomínio.
O ideal de vida para os gregos era o equilíbrio entre os aspectos apolíneos e dionisíacos da vida. Amar a ordem do trabalho bem feito, venerar a virtude da disciplina e cultivar a sabedoria, mas sem perder a alegria vibrante e otimismo face aos revezes da existência. Seria feliz, segundo eles, quem se dobrasse à disciplina, sem perder a capacidade do bom humor e da serenidade junto a familiares e amigos. Eis o plano de equilíbrio psíquico, perdido nas brumas do tempo, todavia indispensável no trato da liderança militar e na educação familiar dos filhos. Quando esse balanço sutil falha, reinam os excessos gastronômicos e afetivos, fracassos profissionais, derrotas militares, desagregação familiar e os conflitos na república.
Graças a Deus, tem sido possível encontrar ambas as forças em nossa cultura organizacional castrense. As recentes festas da família acadêmica (a Páscoa e a Festa Junina) são marcos inegociáveis de nosso calendário que favorecerem o equilíbrio entre ordem e repouso, entre disciplina e alegria, caracterizando a típica vida de soldado.
Bem acima de dos mitos, o próprio Deus de Israel criou-nos sob duas normas imutáveis: a lei do trabalho diário e a lei do descanso semanal, dom precioso. Ele fixou tempos para nossa vida, como lemos nos versos do capítulo 3º do Eclesiástico: “Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo do céu: tempo de chorar e tempo de rir; tempo de gemer e tempo de dançar; tempo de guerra e tempo de paz. As coisas que Deus fez são boas a seu tempo. Assim, concluí, diz o Eclesiastes, que nada é melhor para o homem do que alegrar-se e procurar o bem-estar durante sua vida. Igualmente é dom de Deus que todos possam comer, beber e gozar do fruto de seu trabalho”. Lição magistral!
Procuremos, então, viver norteados pelo ideal deste desafiante equilíbrio. Ora trabalhando, ora descansando; quer no cumprimento de ordens, quer no deleite da vida familiar, seja em uma formatura, seja em um campeonato esportivo na caserna, nas reuniões ou nas confraternizações, na alegria e na tristeza, na saúde ou na enfermidade, saibamos aproveitar as alternâncias dos tempos sagrados no perfeito serviço a Deus e à Pátria.
———
Aproveito esta oportunidade para agradecer as orações, as visitas e os contatos que me fizeram no Hospital Militar, onde fui bem recebido e muito bem tratado durante os 22 dias em recente internação: lá reencontrei o dom da saúde. Destaco a atenção do General Vinícius e do General Gonçalves, bem como os obséquios incansáveis do ST Aquino, Adj Cmd AMAN, no período citado. Ao distinto Cel Ubiratã, exímio diretor de nosso HMR, eis aqui o reconhecimento do capelão e do ser humano LUCAS pela excelente equipe de médicos, enfermeiras e outros militares que recebe de sua liderança o ímpeto audaz para melhor servir ao profissionalismo militar da AMAN e oferecer ampla assistência à família acadêmica, duas vertentes que lá se conjugam harmonicamente e com notável eficiência. Muito obrigado!
———
Deus recompense a todos e abençoe a nossa semana, cumulando-nos de disciplina, alegria e saúde. Assim seja.
DEUS SEJA SEMPRE LOUVADO
Padre Uyrajá LUCAS Mota Diniz – Maj QCM/SAREX
Capelão da AMAN
1 https://brasilescola.uol.com.br/mitologia/apolo.htm.
2 https://www.historiadomundo.com.br/grega/dioniso.htm
Leia a notícia na fonte: Academia Militar das Agulhas Negras
Saia na frente e saiba antes! Inscreva-se em nosso canal no Telegram