“Não podeis servir a dois senhores”. Mt 6,24
Certa vez, uma mãe chegou com seu filho junto ao sábio de sua região para pedir-lhe: “Grande sábio, peço que o senhor aconselhe meu filho a deixar de comer tantos doces”. O mestre despediu a mãe aflita dizendo simplesmente que ela voltasse na semana seguinte. Mesmo sem entender a ordem, ela se foi, levando consigo o filho comilão. Passados os dias, ela enfrentou novamente a imensa fila dos consulentes, trazendo o pequeno problema ambulante a seu lado. Ao ser convocada, disse ao ancião: “Grande mestre, estive aqui semana passada e etc. etc. …” ao que o sábio interveio logo: “Sim, eu me lembro de vocês…” E olhando para o menino, disse-lhe então em tom severo: “Criança, obedeça a sua mãe: pare de comer doces!”. A mãe, surpresa, retrucou: “Grande sábio, não questionando sua inteligência, mas… porque o senhor não disse tudo isso para ele na semana passada?” Ao que o grande rabino respondeu-lhe: “Minha Senhora, é porque, na semana passada, EU AINDA COMIA DOCES…”.
A lição de sinceridade dessa parábola é contundente: a verdadeira liderança, quer familiar, quer profissional, quer religiosa, passa pelo crivo da coerência moral, da autenticidade das instruções e dos conselhos profissionais ministrados pela exemplaridade da ação pessoal, além dos livros, além das teorias e belas ideias. Sobre nossos ombros onera a importante missão educativa de jovens e crianças desta ultima geração. Influenciar uma mente infanto-juvenil para o bem só e possível na sinceridade dos propósitos e sob o respaldo de uma humanidade transfigurada pelo mérito das virtudes.
Ao olharem para um militar bem formado vejam-no sem máscaras, alheio a qualquer hipocrisia, sem vínculos com a deslealdade e capaz de pequenos e grandes heroísmos diários em prol da verdade e do bem, agindo não por força das vaidades e aparências, mas no culto aos valores mais caros da instituição e do humanismo tradicional. Se verdade se prova com sacrifícios e os sacrifícios validam a verdade professada, a sinceridade comprova a ética e esta, por sua vez, sustenta as vidas sinceras.
Neste sentido, o Cristo Mestre lecionou um preceito de moralidade humana jamais esquecido: “Seja o vosso sim, sim; e o vosso não, não. O que passa disso, vem do Maligno”. Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida, não poderia estimular senão a reverência para com a verdade dos fatos. Toda dissimulação, hipocrisia, bajulação ou duplicidade se resumem naquela fecunda proibição do Salvador: “Não leveis duas túnicas”. Não será possível viver com coerência se nossa ética estiver revestida com as túnicas do relativismo maníaco do “politicamente correto”, ou seja, a túnica do “Depende… se é para mim ou meu amigo…” e a túnica do “Talvez, veja lá, não é bem assim?…”. Atenção: “Não podeis servir a dois senhores” (Mt 6, 24).
A humanidade sofre por falta de lideranças éticas credíveis. No mundo hodierno, há uma desilusão generalizada quanto aos líderes que aparentam certa grandeza, mas revelam uma mesquinha pequenez. O mundo virtual é pródigo em desvelar a verdade dos fatos! Por isso, a juventude contemporânea patina no campo da ética pessoal e social, e, uma vez decepcionada, passa a almejar a sorte rápida e rasteira nos prazeres e sortes da vida, no lucro imediato prometido pelas aventuras da existência, e tudo isso a partir dos impulsos emocionais mais primários e indomados.
Os maiores generais da atualidade de nossa Força apontam, em sucessivas conversas e reiteradas instruções, a urgência de uma sistemática formação das tropas para o exercício da liderança notadamente ética, em todos os escalões de nossa força, desde os círculos hierárquicos mais basilares, até aos mais elevados níveis decisórios da Força Terrestre, bem como em todas as ações e reações de nosso pensar e agir na qualidade de militares. Cada fibra de nosso profissionalismo deve ter, por assim dizer, um “certificado ético” de autenticidade e sinceridade, desde sua origem.
Para forjarmos líderes excepcionalmente assim capacitados, nós já ocupamos, e com solene honra, as funções e cargos que nos garantem oportunidades singulares de ensinar às novas gerações o modo mais coerente de fazerem as melhores escolhas possíveis. Podemos, sim, coadjuvar suas realizações pessoais, o que de longe compensaria nossos dedicados esforços, e, ademais, devemos oferecer um digno legado de esperanças àqueles a quem servimos nesta Casa.
Inúmeros relatos de vidas heroicas e memoráveis na história militar, acrescidos de contos instrutivos oriundos das aulas, campos de instrução e alojamentos, onde se encontram pulsantes as antigas lendas e seus heróis, constituem a melhor atmosfera para forjar tais líderes excepcionais e desejáveis.
Na AMAN, esta Casa ímpar de nossa Instituição única, admiremos e incentivemos sempre mais aqueles líderes capazes de despertar na tropa um novo arrebatamento ético, florescente na coerência da humildade de quem nasceu para amar e servir à Pátria brasileira.
E que o Cristo de Deus, Rei dos reis e Senhor dos senhores, supra nossa academia com líderes verdadeiros, os heróis anônimos do cotidiano mais justo. Assim seja!
Leia a notícia na fonte: Academia Militar das Agulhas Negras
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