“Eu e minha família serviremos ao Senhor!”
(Cf. Js 24,15)
“O Senhor disse a Noé: ‘Entra na arca, tu e toda a tua família, porque te reconheci justo diante dos meus olhos, entre os homens de tua geração’”. Constata-se como a obediência de Noé salvou a si mesmo e sua família, no interior da arca, enquanto os impenitentes ao redor seriam engolidos em breve pelas águas torrenciais dos céus e da terra. O episódio bíblico veterotestamentário lança luz sobre o problema do dilúvio cultural de nossa época. As águas diluvianas da inversão de valores, ampliou a instabilidade dos ligames humanos em quase todos os grupamentos. Infelizmente, a pós-modernidade intensificou a revisão das formas de pertencimento, enfraquecendo as práticas que outrora davam sentido e ordem ao tecido social, permitindo ao indivíduo ocupar o seu lugar no mundo, com adaptabilidade, motivação e identidade.
D. Mathias, Doutor pela Universidade de Hamburgo, Alemanha, discorrendo sobre o decréscimo do senso de pertencimento na sociedade contemporânea, garante que “a necessidade de pertencimento é um anseio (forte) por um lugar onde um indivíduo possa se sentir “em casa” […] donde o indivíduo depreende a sensação de conforto psíquico, e lhe permite amenizar a fragilização do contexto social contemporâneo[1].
A citação alerta para o fato de que, no contexto acadêmico da formação inicial dos futuros Oficiais e do aperfeiçoamento constante dos líderes da Força Terrestre, é prioritário cuidar dos vínculos que realmente importam, que enriquecem os talentos e nutrem a coesão na sã camaradagem, porque somente assim é forjado um Exército forte. Eis aqui a raiz psíquica da prontidão operacional do EB.
O Exército Brasileiro foi atento e perspicaz face ao fenômeno descrito e agiu no momento oportuno! Valorizando a vida, comemoraremos em breve o Dia da Família Militar, iniciativa que situa todos os integrantes da Força no interior estratégico do bem-estar mental e na defesa da vida profissional exitosa.
Permanece assertiva a ação de comando do Gen Villas-Bôas, quando Comandante da Força, ao instituir o Dia da Família Militar e nomear Dona Rosa da Fonseca como seu ícone e patrono. Esposa dinâmica no apoio à profissão castrense do marido, mãe dos Macabeus brasileiros e virtuosa matriarca de patronos, ela brilha como promotora do militarismo no coração de seu lar e como sinal do patriotismo cristalino, encarnado na simplicidade da vida. “Mercê de seus atributos de liderança, coragem, desprendimento, abnegação e estoicismo, (ela) serve agora de exemplo vivo à Família Militar, que reconhece a magnitude de sua personalidade e de seus exemplos de devoção ao Brasil […]”[2].
A lembrança de Dona Rosa da Fonseca convida-nos a defender os valores estruturantes da família verde-oliva, em qualquer circunstância, na paz ou na guerra[3], e permite-nos, sobretudo, reforçar entre nós aquilo que os estudiosos denominam “senso de pertencimento”, definido como pilar proeminente da experiência humana e disposição afetiva atrelada ao sentido existencial. O senso de pertencimento militar é uma ligação psicológica forte entre o soldado e a Instituição, fazendo com que o servidor da pátria se identifique, sem reservas, como parte importante de um todo maior, ao qual está vinculado por valores de lealdade, respeito e confiança, entre outros.
Segundo a psicóloga e professora Miriam Debieux, “não se sentir parte de algo pode causar efeitos muito negativos na saúde física e mental e no bem-estar de uma pessoa”[4]. Segundo suas acuradas pesquisas, “o sentimento de pertencimento ajuda na prevenção de alguns problemas de saúde mental, como a depressão, a ansiedade e o sentimento de estar sozinho. A falta desse sentimento ocasiona baixo suporte social e aumento dos casos” de intervenção médica. Sentir-se-á mais realizado aquele ser humano que pertence ao grupo dos que praticam a virtude. Quanto maior o senso de pertencimento, maior a felicidade mensurável do indivíduo.
Por isso, apraz-nos sugerir três bons propósitos que podem germinar no coração dos líderes militares atentos e em suas equipes:
1º: Amar a família militar consiste em pensarmos e falarmos bem a respeito de nosso ambiente e companheiros de trabalho. O hábito de falar positivamente do quartel e de seus integrantes favorece o bem-estar dos irmãos de farda e de seus familiares, criando um clima estável de segurança afetiva para todos Como sinal de gratidão por tudo quanto o Exército representa em nossas vidas, sejamos nós os primeiros defensores da Instituição, não seus críticos gratuitos, os primeiros a sugerir melhorias, não o freio de seu futuro. Seria uma vã ilusão esperar que os vizinhos apareçam para valorizar as grandezas de nossa família verde-oliva ou que desconhecidos estrangeiros se proponham a reconhecer a nossa longa lista de missões bem cumpridas, em tantas histórias de sangue, suor e heroísmo, ainda capazes de despertar afetos sinceros e orgulho varonil.
2º: Procuremos influenciar crianças, adolescentes e jovens de talento e boa índole familiar, a fim de que, um dia, desejem entrar, permanecer e progredir no Exército de Caxias, assim prevenidos contra os riscos de estagnação que maculam até os mais poéticos dos amores e as mais elevadas das profissões. É fato que a profissão militar ainda exerce poderosa influência no imaginário cultural infanto-juvenil como um empolgante e realizador estilo de vida; e
3º: Apreciemos as numerosas atividades que transformam a família verde-oliva em uma rede de apoio solidário: a alegria nas confraternizações, promoções e novas missões, a vibração nas solenidades castrenses, o bom uso clubes militares e hotéis de trânsito, as partilhas culturais e os lazeres em prol das relações interpessoais em nossas Vilas Militares etc., pois somos todos coparticipantes da mesma cosmovisão de valores.
Que o Senhor dos Exércitos abençoe a nossa Família Verde-Oliva!
Somos irmãos e, assim, somos felizes!
Capelania: Inspirando os cadetes!
Transformando vidas!
Apoiando a AMAN!
Padre Uyrajá Lucas Mota Diniz – Maj SAREx
Capelão Militar da AMAN
Leia a notícia na fonte: Academia Militar das Agulhas Negras
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